4.20.2012

room service - rita red shoes.











A esperança de encontrá-la nos seus sapatos vermelhos e a cantarolar desapareceu facilmente quando a porta se abriu. Os sapatos vermelhos estavam lá, sim, mas a descansar no meio do brilho de outras histórias.
 Daquelas que se vivem em palcos e entre instrumentos musicais. O primeiro palco de Rita foi o do teatro do liceu, ao leme de uma bateria. Mas quando se acrescenta 'Redshoes' ao nome, dispensam-se as restantes apresentações. Dificilmente o universo de um músico (e neste caso são dois!) pode caber todo dentro de um quarto. Por isso, preferimos ficar ali, perdidas entre as guitarras e as violas, os pianos e a bateria elétrica, a conversar sobre o quarto, livros, música e...as coisas que fazem parte da sua vida.



O que representa para ti o quarto enquanto divisão?
A minha perceção de quarto mudou um pouco desde que me juntei. Porque antigamente, e quando eu vivia com os meus pais, o quarto foi sempre o meu espaço. Era o sítio onde eu tinha as coisas mais pessoais, os livros, os discos, etc. Como sou uma pessoa muito caseira, passava imenso tempo no quarto. Quando nos juntamos com alguém, isso muda um bocadinho. Porque, de repente, são dois universos que se juntam. Portanto o meu (nosso) quarto é muito mais simplificado. Nem é tão feminino, claro, por isso optei por encontrar outros espaços na casa onde ter as minhas coisas. Mas é sempre um sítio especial...

O que não dispensas no teu quarto?

Livros!

Qual é o livro que estás a ler neste momento?
Jane Eyre, da Charlotte Brontë. Mas tenho uma pilha enorme de livros que vou comprando – Ah! E eu compro quase tantos livros como discos! – e então olho para a mesa de cabeceira e dá-me aquela depressão de pensar que não tenho tempo para ler...

Sei bem o que é isso... e porquê este livro?
Este é um livro que já queria ter lido há muito tempo. Mas vem um bocadinho da ideia deste último espetáculo, porque foi escrito no final do século XIX, por uma mulher muito à frente para o seu tempo e chocou imenso a sociedade na altura. Estou a adorar!

As leituras acompanham, então, o teu trabalho na música, é isso?
Sim, mesmo no segundo disco, no período de composição, eu li imensos livros que, determinantemente, influenciaram o disco.

E isso de comprares tantos livros quantos discos, é mesmo verdade?
Sim! Mais do que os discos, são os livros (ou a pintura ou a fotografia) que me inspiram e influenciam. Às vezes, mais do que a própria música.

Pintura, fotografia...isso são universos muito visuais. És também uma pessoa que vive de imagens?
Sim, muito. Conheço inúmeros músicos e a cabeça de cada um varia muito na forma como compõem ou tocam. Há músicos muito mais ligados às notas, mas eu não sou nada assim. E às vezes, na explicação aos outros, não é fácil (risos)!

É como se a música surgisse como uma série de imagens...
Precisamente. Com os arranjos de uma música funciona mesmo desta maneira. Uma imagem de alguma coisa fria, vou associar a uma nota ou um instrumento. Eu componho e arranjo muito desta forma. E portanto esta ligação às vezes é complexa. Embora a música seja tão etérea que acaba por ser natural também.

Daí o gosto pela fotografia (e a julgar também pelas várias máquinas vintage que já ví por aí). Gostas de ter fotos no quarto?
Tanto eu como o Paulo adoramos tirar fotografias e estamos sempre a dizer que temos de tirar um curso para usar as máquinas todas... mas não temos nenhuma formação, é mesmo por gosto. No meu outro quarto tinha imensas fotos e muitas coisas coladas na parede. Estou lentamente a tentar trasladar algumas para aqui (risos). Agora não tenho muitas... uma do meu avô, que fez 85 anos – que achei que era um marco importante! – e porque é uma personagem muito curiosa...tenho também dos meus pais e do meu irmão. As outras estão espalhadas pela casa.

O que gostas mais no (vosso) quarto?
A minha mesa-de-cabeceira. Primeiro porque tem os meus livros e depois porque está em construção, para colar as tais coisas... (risos)

Costumas mudar a decoração do quarto com frequência?
A minha adolescência foi estranhamente surreal a esse nível, porque eu todas as semanas mudava a disposição dos móveis. Não sei porquê...mas a minha mãe também gostou sempre muito de decoração. Acho que eu tentava construir várias casas dentro do meu quarto (risos)...

Assim estavas todas as semanas num quarto novo!
Sim, exato. Era terrível quando o meu pai entrava lá à noite, porque chocava sempre contra algum móvel (risos). Mas era divertido! Mudava por feeling, porque nunca fui de comprar revistas de decoração. Aliás, não gosto nada de casas super arrumadas e estilizadas.

Faz sentido, visto que há pouco te confessaste como uma verdadeira recolectora.
Sim, completamente. Trago tudo para casa e guardo tudo, desde postais, notinhas que o meu pai, a minha mãe ou minha avó me deixavam... até um capacete das obras uma vez trouxe da rua... (risos).

Porque é que achas que és tão ligada a essas coisas?
Gosto de as ter próximas de mim e uso-as, talvez, para construir estas tais histórias na minha cabeça. Aliás, uma das coisas que gosto de fazer involuntariamente é olhar para as coisas que as pessoas têm e imaginar a sua casa ou a sua história. É um lado muito vivo em mim.

O que é que aprendeste com a tua profissão?
Acho que esta profissão tem várias coisas muito boas, e eu não gostava de ter outra profissão no mundo, mas há algo que, nos últimos tempos, tem-se tornado mais presente para mim. É que, embora toquemos com outras pessoas e haja uma exposição do nosso universo aos outros, é uma profissão muito virada para dentro, de pesquisa, introspetiva, o que é algo que desgasta muito. E nos últimos tempos tenho pensado que preciso de encontrar, neste universo, uma forma de “abrir” sem que eu seja o centro da minha música. Há momentos em que música fica num sítio onde não deve ficar... antes era muito mais inocente relativamente a determinadas coisas e quero regressar a essa inocência. O que me levou a tocar foi o prazer. E é isso que é importante!

Se a tua vida fosse uma banda sonora, que género musical seria?
Hum...talvez um mix entre música contemporânea, com um ligeiro rock'n'roll, a puxar para o punk... mas com um sentido melódico muito presente.

© photography Sara Gomes
© text Carolina Almeida
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14 comentários:

  1. Respostas
    1. Rita shoes are all amazing, such a great collection.

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  2. gosto! e gosto inmenso do espelho redondo

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    1. obrigada Bea!
      vou colocar mais fotos desta casa (do estúdio) daqui a umas semanas.

      bjs,

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  3. Amazing pics, that cat is so lovely❤
    and the shoes look gorgeous :)

    XOXO ❤

    http://udontthinktwice.blogspot.com.es/

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    1. thank you.
      the cat is amazing! really beautiful and photogenic, his name is Mogli.

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  4. Que óptima entrevista e fotos maravilhosas... adorei mesmo a do gato!

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  5. gostei muito :) adoro a Rita!
    http://pumps-pumpsfashionpatriciasilverio.blogspot.pt/

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